quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Revestimentos orgânicos para dutos e acessórios tubulares

Senhores,

Depois de muito tempo, aqui estou eu postando novamente em meu blog de Pintura Industrial / Corrosão e Proteção. Infelizmente devido ao trabalho, faculdade e outros cursos meu tempo ficou muito reduzido e como consequência não pude mais fazer postagens aqui, mas mesmo ausente foi muito gratificante ver que pessoas acessavam o blog, faziam questionamentos, falavam de suas experiências e assim pude colher frutos do princípio inicial da criação deste blog, a troca de informações, contato e aprendizado de ambas as partes.
Gostaria de agradecer aos que se manifestaram ao encontrar meu blog pela internet e dizer que estou animado em poder fazer novas postagens novamente. Neste meio tempo fiz alguns cursos relacionados a outras áreas, como soldagem e equipamentos, mas minha “cachaça” é, e não deixará de ser, a pintura industrial na proteção anticorrosiva e outros meios de combate à corrosão, que é sobre o que venho compartilhar hoje.

Recentemente participei de um curso de revestimentos orgânicos e isolamento térmico para dutos terrestres e submarinos, um curso rico em informações e superinteressante, pois muitos inspetores estão focados ou até mesmo limitados apenas à pintura industrial e poucos têm conhecimento quando se deparam com aqueles tubos compridos, com uma camada de revestimento geralmente na cor verde e super espessas camadas de um revestimento na cor preta ou branca. Eu recomendo a pesquisa sobre estes tipos de revestimentos de alto desempenho e, assim como eu, que pouco tenho conhecimento sobre o assunto, se admirará com a tecnologia utilizada, a história e com certeza poderão abrir seus horizontes quanto aos métodos de combate à corrosão. Embora o curso seja voltado para o pessoal que trabalha em fábricas de tubulação, pessoas voltadas às áreas de montagem ou produção com certeza serão muito felizes pelos conhecimentos adquiridos e pela troca de experiências com profissionais de outra área, assim como eu fui.

Tivemos o privilégio de sermos orientados por um dos profissionais mais renomados e atuantes no setor de dutos e revestimento no Brasil, com projeção internacional, o qual pôde participar da busca no exterior de tecnologias para revestimentos de dutos para qualificação no Brasil, passando também pela escassez de alcatrão, muito utilizado nos projetos de antigamente com aplicação sobre vala, passando para fitas anticorrosivas de polietileno até chegar aos revestimentos de alto desempenho e mais utilizados em todo o mundo, como FBE, revestimento de polietileno tripla camada (3LPE) e revestimento de polipropileno tripla camada (3LPP). Tudo contado com muitos detalhes, pois o orador pôde estar presente em cada etapa da evolução da história do revestimento no Brasil.

Enfim, gostaria de retornar ao blog falando um pouco dos revestimentos que antes de participar do curso me chamavam muito a atenção e causava muita curiosidade. Certamente muitos possuem vasta experiência e minhas palavras serão simplórias, mas espero que despertem interesse em iniciantes e amantes como eu.



Breve história dos revestimentos no Brasil

A tecnologia em revestimentos teve seu salto no século 20, na 2ª guerra mundial e, inicialmente, o revestimento mais utilizado eram os esmaltes betuminosos, alcatrão de hulha advindo do carvão mineral ou do petróleo. Eram dispostos em barris ou sacas com pedras de betume, os quais eram quebrados e colocados em uma espécie de caldeira, no campo, sendo derretido e aplicado sobre a vala (em planta móvel), com utilização de uma fita estruturante por métodos manuais. Como o produto betuminoso tinha que ser aquecido, ocasionava diversos inconvenientes, sendo também uma prática sem muito controle de qualidade, além de ser altamente tóxico. Com o passar do tempo, esses fatores somados com a percepção do baixo desempenho do método utilizado, levou profissionais brasileiros a buscar novas soluções no exterior, o que a partir dos anos 60/70 fez iniciar a implantação dos revestimentos com alto desempenho utilizados até os dias de hoje.

Outro inconveniente encontrado na época relacionado ao alcatrão é que houve uma escassez deste produto no mercado na construção da ORBEL e GASEB e que muitas falhas eram observadas durante a execução do projeto, como rachaduras no revestimento devido ao dobramento dos dutos e pela dilatação térmica do próprio tubo, pois o coal-tar é extremamente rígido, logo, pouco flexível. Nesta altura, estava mais que provado que novas tecnologias já se faziam necessárias em nosso país. Vamos ver abaixo alguns tipos de revestimentos, empregados para tubulações enterradas ou submersas, aplicáveis em fábrica, destinando-se aos tubos nus e para os aplicáveis em campo, destinando às áreas de juntas de campo ou tubos previamente revestidos.



Principais tipos de revestimentos orgânicos


ESMALTE DE ALCATRÃO DE HULHA (COAL-TAR ENAMEL): 

Trata-se de um revestimento de alta espessura, geralmente com espessura maior que 4mm, cuja aplicação consiste no derretimento e derramamento do esmalte de alcatrão fundido à 250°C sobre uma camada de primer de imprimação previamente aplicado  ao tubo. Para melhores resultados de resistência mecânica e uniformidade da película, utiliza-se também uma ou múltiplas camadas estruturantes de véu de fibra de vidro reforçado ou de papel feltro saturado com alcatrão. Estes existem em dois tipos, sendo o tipo 1 indicado para temperaturas de operação até 50°C e o tipo 2 para temperaturas de operação até 80°C.

O uso do coal-tar enamel vem sendo gradativamente reduzido, devido a fatores como:

- Sua resistência elétrica decai a cerca de 60% nos primeiros 10 anos, demandando uma maior utilização de sistemas de proteção catódica;
- Problemas de poluição ambiental devido ao desprendimento de alto teor de gases poluentes em sua aplicação;
- Degradação devido á ação dos raios solares, quando os tubos são armazenados por períodos superiores a 6 meses;
- Com o surgimento de revestimentos modernos à base de polímeros a aplicação deste tipo de revestimento tornou-se obsoleta.


EPÓXI EM PÓ POR TERMOFUSÃO (FUSION BONDED EPÓXY (FBE)): 

Tipo de revestimento de baixa espessura, com espessuras geralmente de 500 micrometros, onde a resina epóxi (em pó) é aplicada por pulverização eletrostaticamente, uniformemente distribuida sobre a superfície, previamente aquecida a uma determinada temperatura (geralmente 180°C), fundindo-se e curando imediatamente, proporcionando uma superfície muito coesa e uniforme.

Como a tinta é em pó, ou seja, não possui solvente, a incidência de poros é baixíssima, criando uma película com excelente impermeabilidade. Também possui ótimas propriedades de adesão ao substrato, porém apresenta como inconveniente a razoável incidência de reparos, devido à sua elevada dureza, portanto, baixa resistência ao impacto.

É indicada para dutos que trabalharam com temperaturas constantes entre -30°C e 90°C, podendo, em casos especiais, alcançar até 120°C.
Sua aplicação pode ser feita em camada única ou em múltiplas camadas sucessivas de tinta em pó (FBE), devendo ser tomado apenas cuidado com a possível perda de flexibilidade devido ao aumento da espessura.

Uma consideração a ser feita é que as tintas a pó são conhecidas por dois grupos. A tinta em pó utilizada em fábricas de peças pequenas, como painéis elétricos, equipamentos eletrodomésticos, em monovias, é denominada apenas como tinta em pó, já as tintas (embora sejam também tinta em pó) utilizadas em fábricas de revestimentos de tubos são denominadas FBE, pois para tal aplicação requerem um pré-aquecimento da estrutura (tubo) que está sendo revestido.


POLIETILENO EM TRÊS CAMADAS (3LPE):

Dos revestimentos de dutos utilizados na atualidade, o 3LPE é o tipo de revestimento que apresenta maior número de características desejáveis.
O que devemos inicialmente entender é que, apesar de ser denominado revestimento de polietileno em três camadas, o mesmo não é composto por três camadas de polietileno. A sequência desta aplicação segue o seguinte: Primeiro é aplicado uma camada de um primer epóxi a pó, aplicado eletrostaticamente (FBE) sobre o tubo aquecido, cuja espessura varia em torno de 100 a 150 micrometros de filme seco. Em seguida é aplicada uma segunda camada de adesivo à base de polietileno (copolímero), pelo processo de extrusão, podendo ser lateral ou coaxial, ou por aspersão, sendo sua espessura na faixa de 300 micrometros. Por fim, é aplicada a terceira e última de polietileno pelo processo de extrusão, com espessura na ordem de 1 a 4mm.
Tal aplicação forma um filme com desempenho altíssimo, pois se combina a boa resistência mecânica e elétrica do polietileno com a boa adesão das resinas epóxis. O revestimento é indicado para dutos operando com temperaturas entre -40°C e 80°C. Pode-se reconhecer este tipo de revestimento observando-se uma camada geralmente na cor verde como primer e a camada espessa final na cor preta.


POLIPROPILENO EM TRÊS CAMADAS (3LPP):

O revestimento tripla camada de polipropileno se assemelha muito com o 3LPE, sendo o método de aplicação o mesmo, diferenciado apelas pelo uso do polipropileno como copolímero do adesivo para segunda demão e polipropileno para a última camada. Suas propriedades são tão boas ou superiores que o 3LPE, porém sua faixa de temperatura de utilização normal é de -20°C e 110°C. Pode-se observar este tipo de revestimento pelo primer característico na cor verde e a camada grossa final na cor branca.


PINTURA INDUSTRIAL:

O tema Pintura Industrial já foi abordado em outra publicação e o amigo pode se informar fazendo a visita ao tópico destinado ao assunto. Para dutos, o que podemos tirar como informação é que a pintura industrial como aplicação para dutos é pouco utilizada e aconselhável, pelo baixo desempenho, relativo ao meio agressivo e dificuldade de manutenção em curto prazo. Em resumo, a Pintura Industrial é mais indicada e empregada em estruturas e tubulações aéreas.


REVESTIMENTO COM FITAS:

Antes de começar, gostaria de relatar um fato que profissionais ligados diretamente com pintura como eu acabam fazendo confusão e generalizando e fazendo referência a este tipo de revestimento (fitas anticorrosiva) por TOROFITA. A designação correta é fita anticorrosiva de polietileno, PVC ou piliéster, pois TOROFITA é o produto citado, mas o fabricante TORO. Digo isso, pois já fiz consultas a 3M sobre vossa tal de TOROFITA e fui imediatamente alertado, portanto meus amigos, não deem margem à ignorância como eu dei nesta ocasião (rs).

Enfim, as fitas com aderência de dorso, as mais utilizadas devido ao seu desempenho satisfatório, podem ser de polietileno, PVC, poliéster ou até mesmo petrolato (cera de petróleo), fitas betuminosas e termocontráteis. Estas são aplicadas helicoidamente, de forma manual ou mecânica, com sobreposição de uma camada a outra de, no mínimo, 50%.
Geralmente, antecede à aplicação das fitas uma limpeza da superfície e a aplicação de um primer capaz de melhorar a aderência da fita.

Apresentam como inconvenientes a aplicação apenas para tubulações de menores diâmetros (abaixo de 10”) e menores comprimentos. Apesar de ter como vantagem a aplicabilidade em campo e versatilidade, a possibilidade de falha na sobreposição é considerável e constitui-se de um revestimento de desempenho e durabilidade limitada.

PETROLATO:

É um sistema recomendado para reparo em revestimentos existentes e de geometrias complexas, como flanges, porcas, parafusos e abraçadeiras. Trata-se de uma substância gelatinosa, obtida pela desparafinação de óleos pesados de petróleo. É também vendido sob o nome de vaselina. O revestimento consiste na aplicação de um primer sobre a superfície tratada, seguido da aplicação manual de uma fita plástica de polietileno que contém petrolato em ambas as faces, trabalhando no princípio da expulsão/repulsão da umidade, devido ao material impermeável (oleoso) empregado.

MANTAS TERMOCONTRÁTEIS:

São mantas ou chapas de polietileno reticulados eletrônica ou quimicamente. O material é inicialmente termoplástico e passa a ser termofixo depois de enviado a uma câmara de radiação.
As placas são aquecidas, aumentando seu comprimento e reduzindo sua espessura. Em seguida, as estruturas moleculares são resfriadas, recompondo-se suas ligações cristalinas e assim permanecendo indefinidamente. Como passa a ser um material termofixo, com adição de calor o material não se torna líquido novamente, mas carboniza (queima). Tais placas recebem em uma de suas camadas uma camada de material elastomérico ou copolimérico e assim são fornecidas aos usuários.
Vale acrescentar que, quando posicionadas sobre a superfície a ser revestida, as mantas são aquecidas acima do ponto de recristalização. Com a fusão dos cristais, as ligações cruzadas conduzem o material ao seu formato original. A reticulação, além de favorecer a memória elástica do polietileno, ou seja, capacidade de voltar ao seu estado original confere melhores propriedades mecânicas e aumenta a resistência ao calor.


Dentre outros tipos de revestimentos para dutos terrestres, podemos citar os bem específicos, como polietileno em pó monocamada, aplicado por aspersão ou por imersão em leito fluidizado, polietileno tripla camada em pó (powder-powder-powder), injection moulding, sistema com flame spray, que consiste na aplicação de polietileno ou polipropileno por pulverização a quente, poliuréia, fluoropolímero, revestimentos viscoelásticos, silicone modificado e aerogel, todos muito específicos e com pouca necessidade de ir mais adentro do assunto para o tipo de explanação objetivada neste post.

Em se tratando de dutos terrestres e submarinos, é de extrema relevância abordar a pintura interna dos mesmos, em que tem como objetivo três funções: Como pintura anticorrosiva, revestimento interno líquido (flow-coat), visando a redução da rugosidade e melhor escoamento do fluido e revestimento aplicado com função de não tirar o produto que está passando na linha de especificação, devido a reações químicas. Tais especificações são divididas em três sessões e podem ser encontradas na norma N-2843 da Petrobras.

Outro assunto superinteressante abordado no programa é a aplicação de isolamento térmico para dutos terrestres e submarinos. Trata-se de revestimento que, além de conferirem proteção anticorrosiva, auxiliam no isolamento do calor entre o meio ambiente e o produto transportado em seu interior, reduzindo assim a sua troca térmica. Dentre os principais podemos destacar os seguintes: Espuma rígida de poliuretano (PUF), Revestimento Pipe-in-Pipe (trata-se da aplicação de uma camada de aerogel, painéis à vácuo ou espumas de poliuretano sobre o tubo a ser revestido e o encapsulamento deste mesmo tubo por um outro tubo de diâmetro maior. Fantástico!), polipropileno sólido, espuma de polipropileno (PPF), poliuretana sólida e polipropileno ou poliuretana sintática (o termo sintático é utilizado quando é adicionado ao polímero microesferas ocas de vidro). Todos os revestimentos com espessuras variando de acordo com os requisitos do projeto.

Pessoal, esta foi minha breve explanação sobre meu entendimento do curso, limitado à parte de revestimentos, por hora. Gostaria de quem tem conhecimento mais aprofundado sobre o assunto e possa compartilhar normas, experiências, estudo de casos, por favor, me contate para podermos trocar informações.

Gostaria de dizer também que toda referência bibliográfica pertence ao material didático do curso, acrescentado por algumas anotações feitas durante as aulas e que a autoria de algumas explanações é do Engenheiro de Revestimentos de Dutos Jorge Maurício da Veiga Tavares, o qual tive o imenso prazer de poder participar de suas aulas e partilhar de suas experiências.


Uma boa noite a todos e até a próxima postagem!